20 setembro 2016

Preto 1996 - 2016










Preto, meu gato querido, farias 20 anos daqui a seis dias...
Eras o último da matilha - Fofa, Gabriel, Tibério, António Rosa e Preto, nomeados pela ordem de desencarne - paz à tua Alma, sei que foste festejar junto dos teus que já partiram.

Quando chegaste cá a casa, vinhas desolado com a morte do teu tutor António Rosa, mas, passado pouco tempo, retomaste os teus hábitos de gato astrólogo e cibernético, adotando o meu colo, os meus livros e teclados como locais de culto e de repouso.
Apesar da tua provecta idade, rapidamente te tornaste o preferido da Morgana. Aturaste cada uma! Tão paciente e recetivo à brincadeira que quem te via pela primeira vez não acreditava que tinhas 19 anos! 

Da minha parte, aturaste, também, umas quantas insónias, períodos depressivos, crises de auto estima, inseguranças, mas, acima de tudo, foste fonte de alegria, companheiro de todas as horas e um incansável, atento e disponível ouvido para os meus queixumes e desabafos. 

A ideia de chegar a casa e não te ver deixa-me inconsolável e a inevitabilidade de explicar a tua partida à Morgana é muito penosa. Neste momento, se ambos olhássemos  para o seu mapa de trânsitos, diríamos: gaita, não dá para mudar isto no photoshop… nunca mais passa?!

Vou tentar conectar-me com o teu olhar matreiro, a pedir comida a cada um que chegava, vou lembrar-me de ti a roubar pizza, a exigir colo aos teus preferidos, vou fazer por esquecer estes últimos dias, em que só eu queria que fosse mais um, e bem passado, o que já era impossível na tua condição. 

Diziam que já estavas senil, mas, quando eu chegava ao veterinário para te ir buscar e te deitava a língua de fora, tu olhavas para mim com um ar de quem tinha ressuscitado, assim como quem diz: para o que eu havia de estar guardado, não sei quem é pior se a mais velha, se a mais nova… 

Não há dia em que não pense no teu tutor; consola-me um pouco a ideia de, através de ti e do Tibério, ter conseguido satisfazer um dos seus desejos. Mas, uma vez que aí estás, aproveito para te pedir uns favores: dá um sopro na orelha do Tibério, um “chega pra lá” à Fofa, um “kussakussa” ao Gabriel e atira-te para cima da barriga do António (neste meio tempo, eu converso com ele)!  

Entretanto, já contei à Morgana que partiste!  Perguntou se tinhas ido viver com o António, respondi que sim, e ela pede-te que faças uma visita à avó Maria… 

Amo-te muito Preto… Descansa em paz!