19 julho 2007


Martin Vedusa é um recente leitor desta casa, e deixou no meu último post, um excelente comentário que partilho convosco.


Cara Magda Moita;

Li com atenção o seu pequeno texto a que chamou "quando fechamos uma porta...", e desde logo senti interiormente a necessidade de o comentar, porquanto a temática abordada no mesmo é de uma pertinência incalculável, para todos nós, viajantes cósmicos que procuramos o recentramento com a harmonia pré-estabelecida dos corpos celestes, ou seja, com o princípio emanador primevo: o Cosmos.

De facto, como a Magda bem sublinha, no árduo caminho da consciencialização espiritual das nossas falhas maiores, perdemos muito tempo divergindo da voz do sentido verdadeiro e interior a qual nos indica, graciosamente, o caminho correcto para a cura e a mudança interior. Esse tempo, ocupado em fuga ou dormência auto-sugerida, é irrecuperável e com ele se esfumam oportunidades de mudança, de acção, de consciência.
Ouvir a voz é, como bem notou, apenas o início do caminho; o Ser, é o haver-ser, isto é, o ter que ser, o transformarmo-nos em acção e consciência na aquilo que, indiscutivelmente, somos: chispas bem-aventuradas do AMOR eterno da pura graça existencial.
Este caminho de purificação, de cura e de ganho de consciência, implica acção concertada e direccionada, implica a destruição de modos equivocados de relação connosco próprios, com os demais e com a realidade. Implica, acima de tudo, enfrentarmo-nos de forma positiva ante o grande momento da vida: a nossa própria morte.

Na longa e sinuosa senda da vida, continuamos, procurando o sentido perdido de havermos sido, outrora, em completa harmonia vibracional com o grande corpo cósmico da criação.
Por ora, encontramo-nos vertidos neste mundo material, dependendo do uso da matéria, deslocados e descentrados na direcção de um futuro que nunca chega, orientados por preocupações que se formalizam em tarefas, coisas a tratar, que nos direccionam a sentimentos de ira, despeito, inveja, que nos invadem e sufocam o coração ---> vindos de dentro em projecção, e de fora, em estrita observância da inocente ou soberba ignorância alheia...

Inelutavelmente circunscritos à verdade do sofrimento nos encontramos.... Esta é uma das 4 nobres verdades de BUDA.

A verdade inexorável da morte obriga-nos a compreender a fragilidade da nossa condição encarnada, da nossa humana condição .
A transitoriedade de sermos-no-mundo, da finitude formal que nos é imanente, do nosso sentido ser o da relação e da interdependência, espelham, objectivamente, que o nosso sentido interior é referente ao outro, ao ABSOLUTO OUTRO que temos por tarefa principal conhecer!

O corpo enquanto acontecimento transitório, na sua materialidade, é extensão, é um exterior relativo ao espaço e ao tempo.
Enquanto seres, somos o INTERIOR desse exterior, e esse interior ambiciona o ABSOLUTO, a plenitude, a quietude e a paz: LUZ.

O mistério do ser da vida se actualizar e desvelar no decorrer do trilho para a própria morte, é incompreensível à mente racional, só o silêncio interior e a graça do AMOR presente nos nossos corações, poderão alguma vez nos guiar ao vislumbre do centro emanador da Graça Existencial que nos pertence.
Esta graça, sim, é a nossa única pertença, a nossa única e verdadeira posse, tudo o mais é ilusão!

É aqui e agora que podemos conquistar o desconhecido, é aqui e agora que temos o dever de aprender a DAR, é aqui e agora que o sofrimento é edificante!
A vida é a partida para descoberta de Si no OUTRO de NÓS MESMOS!

Somos PURO desejo de INFINITO!

Ousar ver o mistério é o grande desafio, verdade sentida e ígnea que simultaneamente nos aterra e deslumbra!

NO FIM ESTÁ O PRINCÍPIO!


“nisi credideritis non intelligetis” = se não acreditardes não compreendereis

Santo Agostinho, in “Confissões”
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Bem Haja;


Martim Vedusa

08 julho 2007

Quando fechamos uma porta....

René Magritte

Quando fechamos uma porta na nossa vida, o universo disponibilizamos de imediato outras alternativas. Este é um ditado antigo, já os nossos avós o diziam, muito embora por outras palavras.

Levamos uma eternidade a decidir dar ouvidos a nossa voz interior, e não nos confundirmos com outras vozinhas engraçadas, mas não, sabias. Depois quando finalmente escutamos, levamos outra eternidade a passar a acção, e entenda-se aqui que eternidade não é uma figura retórica, estamos mesmo a falar das inúmeras vidas, que levamos a alterar certo tipo de padrão de comportamento, e ai temos os famosos vírus e elementais, instalados no nosso corpo causal, e que é possível determinar, através do nosso tema astrológico.

Uma vez que passamos a acção, aguardamos as tais novas propostas do universo, e, elas levam mais ou menos tempo a surgir consoante, o processo de transmutação de energias, ou formas de pensamento, atitudes, são por nós conscientemente trabalhadas.


Não basta dizer, vou mudar, é absolutamente necessário, que as mudanças se operem de dentro de nós próprios e se reflictam, nos nossos gestos, nas nossas atitudes.

E aqui colocam-se outras questões – Quer dizer que eu posso estar séculos a aguardar outra oportunidade???? Ou, quer dizer que eu posso atrair de novo uma situação semelhante? Claro que sim, porque o que acontece, é que na maioria das vezes fechamos a tal porta, mas deixamos um fio de nylon no trinco, para nos assegurarmos que podemos a qualquer momento voltar, com ou sem consciência do que estamos a fazer, mas fazemo-lo. Receamos que aquela porta se feche, porque apesar de não nos sentirmos bem ali, “aquilo”, nós conhecemos, e o que está para além da porta, não fazemos a menor ideia do que é.


O Ser Humano lida mal com o desconhecido, com o desapego e com o abandonar de velhos hábitos. Quer interromper um padrão de comportamento, quer cessar um contrato, seja casamento, seja de que tipo for, mas não quer perder as regalias que essa mesma união lhe proporcionava.

Quando o tal fio de nylon se parte brutalmente, sem que haja qualquer hipótese de o repor, não há alternativa, e ai novas vivências surgem, no entanto se não paramos para reflectir, nos verdadeiros motivos que conduziram aquele acontecimento, as novas vivências vestem de novo as mesmas vestes, ou umas muito parecidas, e lá continuamos nós com o mesmo cordão, conjunto de um mesmíssimo entrançado, que nos prende a Roda de Samsara.