Preto, meu gato querido, farias 20 anos daqui a seis dias...
Eras o último da matilha - Fofa, Gabriel, Tibério, António
Rosa e Preto, nomeados pela ordem de desencarne - paz à tua Alma, sei que foste
festejar junto dos teus que já partiram.
Quando chegaste cá a casa, vinhas desolado com a morte do
teu tutor António Rosa, mas, passado pouco tempo, retomaste os teus hábitos de
gato astrólogo e cibernético, adotando o meu colo, os meus livros e teclados
como locais de culto e de repouso.
Apesar da tua provecta idade, rapidamente te tornaste o preferido
da Morgana. Aturaste cada uma! Tão paciente e recetivo à brincadeira que quem
te via pela primeira vez não acreditava que tinhas 19 anos!
Da minha parte, aturaste, também, umas quantas insónias, períodos
depressivos, crises de auto estima, inseguranças, mas, acima de tudo, foste fonte
de alegria, companheiro de todas as horas e um incansável, atento e disponível ouvido
para os meus queixumes e desabafos.
A ideia de chegar a casa e não te ver deixa-me inconsolável
e a inevitabilidade de explicar a tua partida à Morgana é muito penosa. Neste
momento, se ambos olhássemos para o seu mapa
de trânsitos, diríamos: gaita, não dá para mudar isto no photoshop… nunca mais
passa?!
Vou tentar conectar-me com o teu olhar matreiro, a pedir
comida a cada um que chegava, vou lembrar-me de ti a roubar pizza, a exigir
colo aos teus preferidos, vou fazer por esquecer estes últimos dias, em que só
eu queria que fosse mais um, e bem passado, o que já era impossível na tua
condição.
Diziam que já estavas senil, mas, quando eu chegava ao
veterinário para te ir buscar e te deitava a língua de fora, tu olhavas para
mim com um ar de quem tinha ressuscitado, assim como quem diz: para o que eu
havia de estar guardado, não sei quem é pior se a mais velha, se a mais nova…
Não há dia em que não pense no teu tutor; consola-me um
pouco a ideia de, através de ti e do Tibério, ter conseguido satisfazer um dos
seus desejos. Mas, uma vez que aí estás, aproveito para te pedir uns favores: dá
um sopro na orelha do Tibério, um “chega pra lá” à Fofa, um “kussakussa” ao
Gabriel e atira-te para cima da barriga do António (neste meio tempo, eu
converso com ele)!
Entretanto, já contei à Morgana que partiste! Perguntou se tinhas ido viver com o António,
respondi que sim, e ela pede-te que faças uma visita à avó Maria…
Amo-te muito Preto… Descansa em paz!